quinta-feira, julho 27, 2006

Escravo das palavras

A umidade do dia após noite mal dormida
remete à escuridão que é todo amanhã,
bicho sem controle, mesmo a custa de todo ontem.

A água que não flui à revelia de sua natureza
empoça todo meu campo de visão,
atolando um veículo obeso,
que insiste em carregar todo esse peso morto.

Escravo das palavras,
umidade me obriga à unidade.
E quanto mais busco, mais brusco,
mais Basco, mais asco.

Veículo me traz ventrículo, vão infarto do miocárdio,
remete a grumete, marinheiro de água doce
e um papagaio que come bolachas no ombro da minha pirataria.
Enquanto isso borrachas líquidas escorrem das seringueiras de Chapurí,
onde sempre conheci Chico Mendes.

Bicho me arremessa na gratuidade dos ecologistas,
lembra lixo, lixão, ecossistema ilimitado,
fadado ao suicídio social e coletivo.
E essa imensa massa humana que sobrevive na sujeira.
Humana, Úmida.

Atolado (que palavra feitora essa!), Aiatolá num Oriente sem Norte,
Ocidente sem Sul,
vendendo em shoppings e desfilando (e desfiliando) em passarelas
coisas hippies, bolívares e guevaras.
Colonização insana colhendo sua nefasta inconseqüência.

Empoçada a água não flui, não congela,
não derrete, não chove...
E no mais, chovo eu.
E chove minha noite mal dormida.


Paulo Baroukh 2006
pbaroukh@gmail.com