sexta-feira, abril 08, 2005

O vazio e o silêncio

O vazio e o silêncio,
tão procurados e tão evitados,
na metrópole e no cotidiano,
a chafurdar na lama da falta do horizonte.

Não como se a morte fosse eminente,
nem como se uma doença fosse sendo engendrada,
invisível e inconsciente dentro de algum buraco úmido
esquecido dentro do corpo cansado.

Mas um suspiro aliviado, assim como se afogar numa onda,
vislumbrada e inevitável ao longe,
que ao chegar, dilui em espuma a ansiedade da espera;
em si, muito mais penosa do que o próprio afogar-se.

Um repente: dois olhos ardentes abertos à força pela água salgada,
velha conhecida de anos e anos de ondas,
que a infância e a memória incumbiram-se de adoçar,
e que bebo na ilusão deste verso, mas não dos outros.

Ilusão é fazer parte da onda;
a realidade, uma falta de ar, molhada e amarga.

De ondas se faz a fantasia, essa matéria primordial para os poetas,
que quando acordam têm os dedos formigantes sob o peito
para não deixar que lhe escapem os doces sonhos da noite.

E vêm o vazio e o silêncio a salvar vidas,
tão procuradas e tão evitadas,
na metrópole e no cotidiano
a chafurdar na lama da falta do horizonte.


Paulo Baroukh 2005
pbaroukh@gmail.com