quinta-feira, março 24, 2005

Ousadia

Como ousar falar de mim
se o próprio falar já não me pertence,
minha língua já roubou mil línguas
e o rubor inunda minha face,
só salvo pelas minhas velhas metáforas?

Como, mostre-me o caminho,
se as palavras que um dia proferi
ainda fazem mil sentidos infinitos
e a minha caravela ainda não voltou ao cais,
apesar de todos os seus novos descobrimentos?

Como resgatar alguns, deixando
vilmente outros no caminho ardente
se as delícias não me pertencem
e já não as posso mais ensinar
em desenhos na areia desse vasto deserto?

Se a cada cinco linhas paro,
se a cada palavra impero,
se nunca e jamais emperro,
se mero é meu destino,
e se apenas parado espero?


Paulo Baroukh 2004
pbaroukh@gmail.com