quinta-feira, março 24, 2005

Rua Glauber Rocha

tanta coisa vivida por dentro e com calma
que escolho dentre essas tantas palavras
existentes, insistentes e inventadas
para cantar mais esse dia cinza

cantos entoados
e um córrego que me leva a cantos escondidos
classes sociais se batem
no calor da minha convivência

prá que tanto viver? qual o sentido?
estar redundante de acordo
com o coração simplesmente?

na beira do rio abro os olhos e fecho a boca
gentes moram em casas sobre palafitas
crianças em casas de boneca
saudam o estrangeiro ao me ver passar

piso o barro surrado pela chuva incessante
o frio de verão é humano-desumano
A chuva, enquanto respinga no meus óculos,
pinta de cinza essa cidade de retalhos

meu carro: uma balsa entre mundos
e mudo permaneço
meu olhar é levado pela mão morro acima
meu entendimento na enxurrada voa morro abaixo
o rio sujo corre
meu carro molhado morre

e eu renasço e morro um pouco na lama
a cada olhar
a cada sentir
dentro dos quais não cabe tanto abandono

a favela deixada prá trás me acompanha nessa história
uma das muitas que não posso contar
e que já fazem parte da minha alma errante
ao que novamente me pergunto:
é prá estar redundante de acordo
com o coração simplesmente?


Paulo Baroukh 2000
pbaroukh@gmail.com