terça-feira, março 15, 2005

Nau

Como é altiva minha caravela...
como finge navegar sem correntezas
sem vento nem intempérie que possam
em seu caminho se interpor

Como esta nau cruel pode cortar as ondas
mostrar todas as suas velas ao sol crú
e ela nua, no calor da batalha,
empinar a proa se impondo a Poseidon?

Pode tanto amar o mar
sentir-se tão a vontade em seu elemento
fluir e fazer-se presente como um eterno véu
impedindo que eu fique ofuscado?

Já cego, observo sua trajetória, e...
quem dera ser um peixe voador
e numa noite de verão, lua nova,
poder sempre recomeçar

Como pode ser tão altiva
ser tão preciosa
e ter tal poder de nau,
parando o tempo
fazendo noite virar dia
e desistir de tudo num átimo,
apenas para viver um grande amor?

Que longa jornada com minha pequena caravela
e que altivez, que privilégio
poder ter navegado em suas águas,
ter compartilhado seus medos, pilhagens
tesouros, piratas, monstros, ilhas, selvagens, vulcões,
mistérios e segredos que antes eram só seus
e agora são miseravelmente meus


Paulo Baroukh 1991
pbaroukh@gmail.com