No campo,
no calor das cerradas pálpebras,
acirrada ouço a sua voz,
depois de viajar pelo espaço,
atravessar um satélite,
ricochetear em outro
e chegar aos meus ouvidos de olhos fechados.
Na casa
o relógio parava;
tiquetaqueava sem parar;
marcava o passo
compassando de um signo a outro
sem nunca parar,
pousado sobre a mesa às moscas,
defunto que era o velho.
No campo
os olhos se abriam,
o sol ofuscava,
e nas manchas verde-metálicas
eu via em você a fonte da voz.
Na casa
a mosca morria
vítima da mola solta
do morto menosprezado
perigosamente inerte.
A máquina retrocedia e sofria os dias
do nebuloso mas vivo passado.
O defunto era levado
chorado pelos parentes.
O tempo correndo à velocidade dos sons
taquetiqueava seu sofrimento.
O campo explodia em verde...
depois em vermelho...
num vulcão cheirando a assassinato.
Paulo Baroukh 1982
pbaroukh@gmail.com