Um dia me chamaste Peter Pan
porque te amava
e pensava que se não te tocasse
seria a Terra do Nunca
Nunca mais te vi
mas te sonhei ao longo dos anos
te toquei, te amei, deliciei, idealizada,
congelada na goela de um crocodilo
Concordo agora como adulto
o vislumbre do avesso do que seria
me marcaste sempre
no meu corpo, no meu nunca
Nunca mais te vi gente
viraste fada naquele momento
em que com teus olhos azuis
me chamaste: Mágico
Ao desviar teu olhar se quebrou o cristal.
Nunca mais te vi refletida na menina dos meus olhos
não terá retorno aquele atelier de amor
não tocada, encantei-te, cristalizada
Lugar comum de um estrangeiro
sem terra, sem paradeiro.
Cristal amado despedaçado
em todas as mulheres que quis
refletido em todas tuas faces incertas
estilhaços infinitos da certeza que já tive
de quão mito era crescer
Cresci, criei, engravidei, virei pai
senti rodeios e farfalhares de fada ao meu redor
durante toda a vida
e se te vi em sonhos , não eram sonhos.
Era meu nunca
minha doce terra.
Paulo Baroukh 1996