quarta-feira, março 23, 2005

Sempre!

Encosto em ser eu mesmo,
junto, junto,
me afago e me entristeço,
me espanto e me desconheço.

Faço que faço,
me viro pelo avesso,
deparo-me com todos meus fantasmas.
Deve ser parecida, a hora da morte.

Revivo meus sonhos e pesadelos,
com tudo que foram, ou que fiz deles,
símbolos aleatórios de um poeta apaixonado.
Reencontro minha infância,
com uma terrivel constância.

De ser eu mesmo já não posso me furtar,
roubar meu tempo já não me satisfaz,
o torpor se esvai e clama por vida:
Agora, já...

Preciso ir à todo pano em direção às terras novas,
localizada nos recônditos do inferno,
sentir de perto o hálito do Dragão,
este íntimo desconhecido.

Encosto em ser eu mesmo,
junto, junto,
me afago e me entristeço,
me espanto e me desconheço.

Não me é possivel repetir antigas fórmulas,
nada funciona como antes,
os referenciais já não são.
O sol que me ofusca não é o mesmo.
A lua. . . fugiu!

Turbilhão, furacão, ninguém pode encostar em mim.
Sinto amiga essa solidão de plantador de palavras,
acerco-me de meu epicentro, meço a precisão de meus versos,
e recolho-me à proximidade de minha própria morte,
para dar lugar a esse novo mistério atraente e apavorante.

Sempre!


Paulo Baroukh 1998

pbaroukh@gmail.com