É algo assim como estar perdendo a cada minuto
tudo aquilo que nunca se pôde ter,
tentar reter o todo, tendo o nada por ferramenta.
É algo assim como estar no vácuo
tentando se agarrar a uma barra de ar,
querer vencer o desconhecido, invencível.
É se estar apaixonado pelo mistério,
precisar dele como força vital,
e fazer movimentos para matá-lo a cada passo.
É montar uma égua livre, sentir-se livre,
e puxar as rédeas durante a disparada alucinante,
usando o chicote enquanto se quer parar.
É o desejo da morte do pai, cujo choro eterno é alento,
virado pelas noites,
acalentado pelos filhos.
É reter todos os grãos de areia,
de todas a praias, de todos os desertos,
entre os dedos perplexos de impossibilidade, deixando escorrer.
É a dor que vem, assim, sem querer,
por querer demais, por amar demais,
harmonizando esse grande todo,
pasmo ante a sua força,
deixando que o vento leve,
leve pra passear esse pequeno ser,
já não tão grão.
Paulo Baroukh 1997
pbaroukh@gmail.com