Talvez sejam pés porque andem
a infames metros por segundo
entre colunas, pátios e fontes
derribando toda a audácia primitiva
de camadas sobre camadas
deixando menos que pedra e areia
sem ruído ou melodias
parcas de desejos violares
Pés de mulher é o que são
com purpúrea morte estampada
de sardas sobre rocha
liquidez impura e profana
Se sereias ouvires, som encantado,
derreter a cera é o que te resta
Entre sonhos e pequenas letras raras
derramando a trinta quadros por segundo
toda a velocidade ilusória das cores
Moda ou não, encantam-me cabelos ruivos
domesticado fogo do saber
vento escorrido pelo paraíso equino
musica pseudo-silêncio
de luz morena e ardente
Na possibilidade de ver onde nada há
e nunca houve
o olho tétrico da paixão
muita água e solidão
lapidar paródias reais de vidas absurdas
Não te sintas tão só por pensar a solidão
pois que a lógica do universo te acompanha
Acabar e não saber o que se fez
congelando momentos sucessórios
num filme lambido pelo sol que o vela
O que não se guardou na memória está puro
perdido para sempre
Essas coisas não se querem: existem-se
Paulo Baroukh 1984
pbaroukh@gmail.com