quarta-feira, março 23, 2005

Filme

Avante, avante, o filme não para;
roda a mercê de vil motor,
medo insano da revelação final
que ao cabo traduz caminho e dor.

Quem assitirá tal obra sempre inacabada?
Que olhos baços esperarão ansiosos pelo ritmo,
que brilhante duração terá
esse caminhar de luzes e sombras?

Já não importa...
A memória se faz insuportável
e num registro, menos cruel, se engana por querer
nessa ilusão de movimento, momento, movimento.

Ah, que doce é a ilusão.
Lareiras, netos, cães, vidros coloridos,
uma memória ao contrário,
lembrando do tempo que está por vir.
Cientistas, loucos, tentando modificar o curso do futuro.

Caminhemos apenas sem a paz,
desejo vão, de vãos amores e amargas recordações.
Paixão é como palavra:
Dita com força, incendeia o caminhar,
com doçura, seduz,
com dúvina, enaltece,
com simplicidade, momento.

Mistifico e minto.
A procura de um escudo mágico
que proteja da dor
sem impedir de viver as luzes confusas,
belamente difusas e recortadas de se viver essa paixão.

A
única paixão possível.

E no final, quem vai assistir ao meu filme?

Exaustivamente,

Eu.


Paulo Baroukh 1998
pbaroukh@gmail.com