segunda-feira, março 21, 2005

dia 7

não amanhece, o caos impera!
espaços e cores explodem ao toque
dos meus sentidos sem idade:
“as paredes tem algo a dizer!”
ao que me faço dia à força de atenção.

então, súbito, acorda,
ainda noite, alpinista do vácuo,
minha energia clama por movimento,
esse ópio sem adjetivos,
ao que se curva a manhã, e finalmente acontece.

travestir-me de dia,
tentar encontrar os espaços, ainda verdes,
a colorir minha maturidade...
meu último dente nasce... à esquerda... em cima...
me apavora de razão,
ao que o coração transborda.

passos, passos, passos...
penso:” prá que tanto andar,
se do fundo não se passa?”
não se trata de poço, nem de poça,
mas de todo um oceano em expansão.
ao que me salgo de querer criar raiz, promovendo tormenta.

tem gente, bendita seja, que acorda agora,
e me acompanha no trabalhar,
(durante a revolução seria fuzilado por menos que isso),
não pensa, apenas pega o trem.
não sabe prá onde, nem porque,
e é essa sua beleza.

claro que algum pensa:
“ah, como seria bom estar em casa, só fazendo poesia...”
mas são sonhos vãos,
de um círculo que se fecha à minha volta,
em rodas de trem, vira ônibus, vira metrô, vira lotação;
...e o meu dia, que não amanhece...?

sustento, rebento, ah... a matéria se impõe.
o vício da incerteza,
menos como princípio do que inconsequência,
a desafiar as leis da física e da gramática, impera: “mudanças são!”
então meu sonho é violentamente interrompido,
e ao meu ouvido a poesia sussura, aos berros, a relativizar:

- “porra, caralho! são 5 horas da manhã... vai dormir, Zé!”


Paulo Baroukh 1998
pbaroukh@gmail.com