terça-feira, março 15, 2005

Elogio a Borges

Noite pelas ruas,
já não se faz entender a luz
que projeta mil sombras
na calçada da cidade

Uma deve ser a minha sombra,
aquela que existe segundo
uma lei, uma luz, e um eu

Mas são mil,
uma a andar em linha reta,
outra bêbada cai,
uma é vil, outra viril
uma é negra, outra noite

Cada qual infinitos fragmentos
que sobrepostos,
formam única sombra,
portal de loucura,
se porventura transposto,
aterradoramente uma só seria

Tudo ou nada
Tudo ou um,
é questão de saber perder, saber cegar
Qual delas é a bela?
Qual a que me é perfil,
perfeita e pérfida?
O azul que voa ou
o mistério que desvenda?

Caiu o tirano da luz suprema
ao jorrar em mil versos, projetando mil sombras
E o poeta ainda anda altivo pelas ruas
sem pressa
como fosse um deus
como tivesse apenas
uma única sombra


Paulo Baroukh 1988
pbaroukh@gmail.com