terça-feira, março 15, 2005

Abelha

Como fazes para que o tempo não passe?
Como é esse teu segredo, essa tua lua?

Te amo sem perdão, sem perdição
sem grandes ansiedades
a não ser pelo teu sexo quente
tua frieza quieta e indiferente
até que me mordes
eu suplico, e tu te rendes

Finges que tanto faz
e faz tanto que enlouqueço de paixão
Tens o corpo de uma deusa
e a memória de uma pedra, imutável, insólita
Faz lembrar o tempo
esse teu jeito estranho de fazer amor
faz lembrar que o vento é azul
e a planície amarela, calma
clara e transparente, e eu
tua tempestade incolor

Bebe de mim sem fim
Aplaca tua sede de me contar
como é esse teu segredo

Te fazes num passe pequenina e fugaz
quando na verdade pretende ser imensa e eterna
Simultânea quer e me deixa
Me queixo, vou adiante
volto, provoco, te olho, te molho
me mordes e não queres
Suplico, e tu te rendes

Sem tempo ou desespero
se vão os minutos, em vão as horas
e lá estás, travestida de tua própria boca
toda boca, toda olhar
Me beija, te peço, pareço pedra, pereço
vem a onda e não suporto
amo tua força e teu desejo

Desejo tua primeira vez
encanta-me de tua louca
ansiedade de vida
tua vida, teu sopro
Tu minha luz, minha doce lua azul
Vermelha como repentina te fazes
e a esse teu segredo

Te arranco de tua paz
de tua alma calma, cálida, cadente
Nunca calas, dizes essas coisas
que me fazem sonhar teu sexo ardente
Mas negas, provoco, invoco
me mordes, in loco
te pego, num átimo, te viro, reviro,
te rendes, não suportando
teu próprio negar
amor desse teu jeito louco
estalam peles, gemidos de mel

Vai-se um momento, acordo e não estás
Me viro, grito, berro, desespero,espero,
num espelho vejo cabelos loucos
olhos procurantes, como antes, vago
notívago, bundívago, meditávago,
vagavago e tudo porque não estás
Pelos tempos vou vivendo
girando em torno de mim,inexisto
lanço vãs sementes ao vento

Vão-se os dias, down by the river side
e num lampejo menor que o momento
saio de mim, se abraçam, dormem, acordam, fazem amor
sempre daquele seu jeito louco
de morder, virar, negar e depois
se render

Eis que, então, com sua fúria, me pega carinhosa,
me beija os olhos cansados
como se soubesse de tudo.
Feitiço contra feitiço, atiço.
Sou de ouro e bronze, imponho
finjo não estar latejando
mas ela feiticeira que é, sabe:
Como é esse teu segredo?
Te amarei pelos tempos sem saber de ti.


Paulo Baroukh 1987
pbaroukh@gmail.com