Era a cidade selvagem,
tudo concreto, armado, mal-amado.
Era o monstro da modernidade:
olhos voltados para o longínquo futuro.
Era o antro dos teóricos,
bêbados, perdidos, por demais silenciosos,
que aprendiam e depois vomitavam.
O turbilhão estava formado,
explosivo em potencial.
Tudo medo, tudo fuga, tudo absurdo.
Um grande circo
em que todos eram o palhaço
mas ninguém ria ao vê-lo pegar fogo.
A cidade era calva por ter arrancado os próprios cabelos,
era branca por ter proibido o sol,
roído pelo rato do poder,
mal por força do óbito.
Desespero, cuidado e violência,
E no centro de tudo
o cemitério dos passarinhos e dos poetas
abarrotado de corpos.
Nem Mar, nem Ar, nem Vento...
Só tempo, tempo e tempo.
Paulo Baroukh 1982
pbaroukh@gmail.com